Deixando as frustrações organizativas que já fazem parte de nos, passemos ao tema de destaque. Nos últimos anos, fruto do trabalho de muitas pessoas, em particular do Ildio Caifaz, Carlos Ferro, Miguel Guambe, Marshall Show (saudoso, já de regresso ao seu pais), entre outros, construímos uma equipa de sub 16, aparentemente competitiva, e capaz de ombrear com as grandes selecções da modalidade. Tanto do ponto de vista técnico, quer a nível de estatura, e até de rodagem competitiva, tínhamos a legitima expectativa de ver esses factores consubstanciados em altos níveis de desempenho desportivo. A tal se junta o tal factor casa, que exponenciava ainda mais as nossas esperanças. Recentemente até tivemos uma final renhidíssima com Angola num torneio da mesma faixa etária, numa equipa na altura orientada por Carlos Ferro.
Houve efectivamente um trabalho árduo por parte de todos os retro mencionados intervenientes, de forma a garantir sucesso na prova. Até a altura que vos escrevo, havíamos averbado uma vitoria difícil com a África do Sul, e perdemos copiosamente com o Mali. Aqui é que se centram as nossas preocupações.
Segundo relatos de pessoas ligadas a modalidade, pareceu ser um confronto entre David e Golias, com o oponente a colocar em campo, jogadores com postura física e atlética, que superam os nosso jogadores seniores. Julgo do ponto de vista organizativo (FMB e FIBA), poderia ser feito um trabalho mesmo que a posteriori para averiguar a real idade biológica dos adversários, pois a mental, essa vai avançada.
Não dizemos isto, apenas pelo facto de termos perdido (nestas idades, isso costuma ser irrelevante), mas fundamentalmente por que, podemos caucionar toda uma geração de jovens atletas, que na sua puridade e infantilidade, acreditam num mundo correcto, feito de justiça e honestidade. Os valores desportivos na verdadeira acepção da palavra, para esta faixa etária podem ter sido irremediavelmente comprometidos. De modo que se exige dos treinadores da nossa equipa, a verdade gestão de frustrações, e que mesmo assim, estes jovens talentosos não se desliguem da modalidade prematuramente, pois são o nosso futuro na modalidade.
É que do ponto de vista efectivo, não seria de esperar outro desiderato para as nossas equipas, pois estamos a competir de armas desiguais desde o inicio, pois muitos oponentes pela ânsia da vitória, falsificam idades e trazem brutamontes para enfrentar os nossos inocentes atletas. Este hábito é conhecido de todos os que andam por estas lides, que imponentemente vão assistindo a este descalabro da verdade desportiva.
Não se pode subentender com estas palavras que sugeríssemos uma atitude semelhante dos nossos dirigentes, pois não faz, nem nunca fez, parte da nossa cultura desportiva. Mas obviamente que haveria algo a fazer, nomeadamente ao nível da denuncia destes casos as autoridades competentes. Dessa responsabilidade os nossos dirigentes não se podem exonerar. Este fenómeno acontece em todas as competições em que a idade é um dos critérios, pois há quem não meça a meios para atingir fins (veja-se o caso dos nossos jogos escolares!).
Finalmente, e utilizando um velho adágio popular, a verdade sempre vem ao de cima, e mesmo estes atletas que hoje se podem vangloriar de ter ganho competições injustamente pela idade, quando efectivamente chegam a idade de seniores acabam por pagar toda a falsidade desportiva que demonstraram ao longo da sua carreira.
Por que felizmente, no desporto de alto rendimento, o nível de exigência é tal, que fica complicado escamotear a verdadeira idade, espero que a verdade desportiva também não tarde para estes falsários, e que os nossos miúdos não se deixem abalar e continuem honestamente a sua carreira desportiva que se antevê brilhante.
Celso Santos
Psicólogo Organizacional
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