domingo, 9 de agosto de 2015

REFLEXÕES E “AUTO-CRÍTICA” SOBRE O EXERCÍCIO DA PSICOLOGIA EM MOÇAMBIQUE. UM DISCURSO AUTOFLAGEDOR?

Rómulo Muthemba

A Psicologia é uma ciência que estuda os processos psíquicos e o comportamento humano, é autónoma, mas de natureza eclética, muito por “culpa” dos diversos e variados contributos de outras ciências (antropologia, sociologia, biologia, etc). 
É potencialmente, cooperante em vários domínios do saber como a medicina, educação, trabalho e de outras profissões como o marketing, avaliação, aeronaútica, militar, política, desporto, entre outras.
É considerada em vários contextos, uma ciência fundamental e prestigiante. 

Em Moçambique, tem sido contrária esta tendência para o rigor, boa formação acadêmica e humana e, mais centrada no facilitismo. Nos últimos anos tem-se verificado uma “psicopraga” nas nossas universidades e instituições do ensino superior. É o curso mais comercial, considerado mais fácil de se abrir e com retorno certo, mas também é o curso onde militam os “frustrados” e desalojados de outros cursos (medicina, direito, etc.). Ao contrário do que se está a tentar pregar, a psicologia não é um curso barato, isto se feito com o rigor, com laboratórios, supervisão constante, campos de estágios apetrechados e investimento na formação do corpo docente.


 É fundamental deixar ficar a ideia de que o melhor loby e advocacia para o reconhecimento da classe dos psicólogos é a organização, rigor na formação e qualidade do trabalho – este sim, deve ser o grito de revolta: “trabalhar bem, fazer bem e com muita qualidade” – assim seremos reconhecidos e seguidos. 
Facilitismos, formações “ridículas” de licenciatura e pós-graduações para alimentar apenas narcisismos individuais de acumulação de diplomas, quando não conseguimos fazer uma simples entrevista clínica, é uma perversão que não nos permitirá tratar de quem quer que seja e abrindo espaço para que continuemos a ser ridicularizados perante os colegas de outras áreas e da sociedade no geral. 

Preocupemo-nos em equipar as nossas faculdades de psicologia, a delimitar os campos de acção em função da formação e treino e, melhorar a qualidade da assistência através da pesquisa, auto-avaliação, supervisão e treino constante.
 Hoje, enaltecemos o facto de sermos Psicólogos, alimentamo-nos com a (pseudo) valorização que o título de Dr. nos confere. Aqui reside o grande perigo do “não saber e não saber que não sabemos”, abrindo espaço para uma série de agressões ético-técnicas que só fazem sentido aos própios psicólogos militantes do facilistismo, negação e promoção da independência total de quem pratica o acto psicológico – errado.

 Hoje, ouvimos queixas “aberrantes” de condutas dos psicólogos no espaço terapêutico e outros que mostram de forma efectiva que faltam talento, técnica, formação e humildade. Perante estes factos, propalamos de viva voz que a solução é a Ordem dos Psicológos. Negativo!!! A solução está na mudança de atitudes contínua, uma melhor formação, selecção dos melhores para que nos possam dar garantias de qualidade e, daí o tão cobiçado prestígio. 

A ordem pode ser um bom veículo de estruturação da classe, mas deve nascer “direito e não torto” – como alguém já vaticinou. 

Insiste-se com a necessidade de termos uma ordem de psicológos e psicoterapêutas de Moçambique – vem aí a confusão e, não precisamos definir e distrinçar estes diferentes conceitos e áreas de actuação, para prognosticarmos que perpetuaremos as confusões actuais (pessoal sem formação em clínica a exercer clínica, falta de investigação em serviços, actuações solitárias e sem certificação ou conhecimento de técnicas usadas, falta de actualização técnica, etc...) 

Queremos optar por este caminho simples e rápido, mas autoflagedor ou pelo curso do rigor, da qualidade e da valorização da classe?

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