O tema Homossexualidade,
mesmo tão presente na contemporaneidade, ainda é um assunto de grande
repercussão, geralmente considerado como “tabu”, principalmente quando abordado
dentro de uma família tradicional, como exemplo, um programa humorístico da
televisão brasileira que retrata a culpabilidade de um pai ao ver seu filho
“desmunhecar” frente a situações sociais com o bordão: “Mas, onde foi que eu
errei?!!”, demonstrando claramente essa escandalização da temática.
Relacionar-se com um
parceiro do mesmo sexo é uma ocorrência relativamente comum no mundo através
dos tempos, porém, ainda com a presença de indivíduos homossexuais e bissexuais
na história da humanidade o tema continua trazendo muitas controvérsias na
modernidade e contraditoriamente em uma
sociedade que se nomeia tão “liberal”,
colidindo com dogmas morais e religiosos, influenciados por ignorância e
contrastando com intuitos políticos.
A discussão acerca da
homossexualidade dentro de comunidades de estudiosos ainda é muito acirrada,
pelo fato da ciência ainda não ser suficientemente capaz de determinar sua
causalidade. “Seria a homossexualidade predominantemente um fator de cunho ambiental?”;
“Seria ela, puramente genética, sendo assim, onde está o tal `x colorido´?” ;
“Ou talvez, um conjunto de fatores, misturando o meio, a biologia e a cultura,
formando uma multicausalidade?” Bem, estas respostas são o que milhares
de estudiosos das mais diversas linhas da psiquiatria, psicologia, biologia,
medicina geral, neurociências, sociologia e antropologia desejam poder
responder um dia. Até então é muito dito que se trata de um aspecto da condição
humana que acarreta profundos efeitos sobre a vida de um sujeito e da
comunidade em si.
1.1 O Que é
Homossexualidade?
A sexualidade envolve o
comportamento, ato sexual, noções de gênero (feminino e masculino), dentre
outros. O ser humano moderno vive em uma sociedade que não possui o costume de
enxergar o sexo como algo natural do ser vivo e de cada indivíduo em
particular. Existe a ideologia de que “deve-se ser igual/normal”, sendo assim
qualquer diferença é mantida em segredo, causando uma angustia ao individuo
(PICAZIO, 1998).
É preciso entender o que
de fato seria um problema em si e o que é designado como problema pela
sociedade, uma vez que o desejo não causa dor, a problemática no caso seria a
sociedade que não aceita seus diferentes membros, pois cada um tem sua
combinação de sexualidade e buscam-se diferentes modos de relacionamento. O
melhor caminho é a aceitação para se obter uma vida melhor em uma sociedade
civilizada (PICAZIO, 1998).
As possibilidades são
diversas e não é conveniente, em um tempo com preceitos tão liberais, julgar o
que é certo ou errado. A sociedade contemporânea está passando por grandes
transformações, onde, por exemplo, algumas questões consideradas anteriormente
como eternas, hoje já se modificaram e continuam se modificando (PICAZIO,
1998).
Freud, grande estudioso
dos processos subjetivos da mente e pai da psicanálise, no início do séc. XX
apontou algumas possíveis causas da homossexualidade determinando, basicamente
três fatores causais: a forte ligação com a mãe, a fixação na fase narcísica e
o complexo de castração.
“No primeiro, o homossexualismo teria
início devido a uma forte e incomum fixação com a mãe o que impediria essa
pessoa de se ligar a outra mulher. O segundo fator, o narcisismo, faz com que a
pessoa tenha menos trabalho em se ligar ao seu igual que em outro sexo. A
estagnação na fase narcísica faria com que "o amor fosse para eles sempre
condicionado por um orgão genital semelhante ao deles" (Ferenczi). O
terceiro fator, aponta problemas relativos à travessia da castração, isto é,
sofrimentos relativos as perdas e a idéia de morte que deixariam a pessoa
acomodada ou acovardada na sua psicossexualidade” (LIMA, 2001).
Um esclarecimento
importante a se ressaltar é a confusão de terminologias quanto a referencia ao
homossexual. O termo Homossexualismo, que podia ser visto antigamente até mesmo
em um manual importante para consultas de profissionais da área médica como o
CID-9 (Código Internacional de Doenças), admitia que o indivíduo homossexual
possuía um transtorno mental e, portanto, era “doente”. O sufixo “ismo” da
palavra traz um significado “patológico/doença”. O “Homossexualismo” estava
incluído dentro do capítulo V: Transtornos Mentais, com o código 302.0, mas nos
últimos anos, com a explosão de grupos denominados “gays” crescendo não apenas
no Brasil como no mundo, houve a necessidade de não somente adequar o manual,
como em suas revisões, modificar a forma que o assunto era abordado.
Freud cita acima o termo
“homossexualismo”, muito provavelmente por ter como formação a medicina, e em
sua época esta nomenclatura e ideologia patológica fosse a aceita em termos de
comunidade médica.
É preciso lembrar, por
outro lado, que o CID não é somente uma classificação de doenças, lesões e
causas de morte, em suas últimas revisões, passou a ser utilizado como instrumento
para codificar motivos de consultas em serviços de atendimento médico,
passando então a incluir várias entidades que não são doenças, lesões ou
causas de morte (LAURENTI, 1984).
A partir de tantas
discussões causais, com constantes questionamentos se “é doença?”, e com o
imenso crescimento de grupos de homossexuais lutando por suas identidades nas
mais diversas culturas, convencionou-se então a utilização do termo
“Homossexualidade” como referência ao indivíduo que possui maior afinidade
psicofísicosexual por membros do mesmo sexo.
Actualmente, dentro do
CID-10 , continua existindo um código para homossexualismo (F66.x1) por se
tratar de um instrumento estatístico para classificar causas de morte,
diagnósticos de internação hospitalar e motivos de consulta mesmo que contra
isso continuem os movimentos, pressões e apoios. Este código apenas deixaria de
existir quando não houvesse mais, em absolutamente nenhum lugar do mundo
consultas motivadas pelo fato de ser homossexual. Da mesma maneira que o
heterossexualismo agora existe no CID e será discutido quando trouxer a um
indivíduo algum desconforto ou, principalmente, discriminação, o que o levará a
procurar, sob diversos pretextos, um médico para orientá-lo. (LAURENTI, 1984).
Vamos aguardar o CID-11 em 2014 e observar como as mudanças culturais e
temporais da sociedade influenciam estes códigos e suas nomenclaturas.
Os indivíduos ainda hoje
têm grandes duvidas sobre como a homossexualidade “surge”, se seria possível
evitá-la ou não, se seria um desvio ou algo natural, se é algo que se passa de
pessoa para pessoa. A resistência em entender a homossexualidade pode se dar
pelo fato de se acreditar erroneamente que “é um desejo adquirido ou aprendido”
e não apenas algo natural como a heterossexualidade, onde se sente um desejo
como qualquer outra pessoa (PICAZIO, 1998).
Uma grande problemática
psicológica que um adolescente ou adulto pode ter, é a constatação de ser
homossexual, pois não é fácil para o indivíduo ter um desejo que não é
respeitado pelos demais e um desejo que é ainda muito perseguido pela
sociedade, passando por uma batalha pelo preconceito, engajando-se na luta por
seus direitos. Com tantos problemas, preconceitos e julgamentos, se a
homossexualidade fosse uma opção, quem a escolheria?
Ainda que se tente
disfarçar a condição homossexual e os sentimentos deste indivíduo em relação
aos amigos, parentes, etc não é algo fácil mentir para os outros e
principalmente para si. E com isso, esses sentimentos vão causando ao individuo
um sentimento de culpa, de anormalidade e assim, acabam ficando entre o viver e
o medo de ser rejeitado. Porém, em muitos casos o individuo consegue desabafar
e tirar esse “peso de suas costas”, dizendo tudo o que sente para família,
amigos, e parentes num geral, acabando com aquele incomodo de mentir para todos
em sua volta, podendo então buscar sua felicidade sem medo e ser amado por quem
se é, não importando sua orientação sexual (PICAZIO, 1998).
1.2 Hipóteses sobre a
Homossexualidade
Há muitas controvérsias
sobre a gênese da homossexualidade, os grandes estudiosos almejam muito saber
se é determinado geneticamente, se é resultado da educação ou do meio ambiente
em que a pessoa é criada.
“Tudo na sexualidade está a serviço da
sobrevivência dos indivíduos dos gens ou das espécies (da natureza). No humano,
seguramente também. Ainda que, no humano, os caminhos da sobrevivência (no
imaginário) atravessam estranhos percursos de morte e de inefabilidade. O homem
é anjo e animal, digamos: não é estranho que sua sexualidade seja mistério.
Desde os gens até a cultura, nos informam desses assuntos estranhos e
misteriosos” (GRAÑA, 1998, p. 110).
O neurobiólogo Roges
Goski (Universidade da Califórnia) fez alguns experimentos laboratoriais com
hormônios masculinos (testosterona) em fêmeas e observou que desde as primeiras
fases de suas vidas, esses animais tendiam para comportamentos mais masculinos
(mais agressivas, além de uma maior atração por fêmeas).
O geneticista Dean Hamer
(Instituto Nacional de Saúde dos EUA) garante que a homossexualidade
possui uma determinação genética, pois ele afirma ter descoberto genes em uma
determinada região, apelidada por ele de GAY-1, associados à homossexualidade.
Porém, essa hipótese não possui muita credibilidade no meio científico
americano. Esta é uma tese muito discutida, pois tira a homossexualidade no
âmbito da escolha (e portanto opção do indivíduo e estilo de vida), trazendo-a
como resultado de uma variação genética.
A nova geração de
psicólogos, tende à valorização de relações extra-familiares, ou seja:
As relações interpessoais com vizinhos,
colegas da escola e da rua, como fatores que mais pesam no desenvolvimento da
personalidade, nesse sentido, meninos que se comportam segundo o estereótipo de
menino (gostam de brincadeiras mais agressivas, se identificam com heróis,
gostam de aventuras, ação, são menos obedientes e se encrencam na escola por má
conduta mais que as meninas etc) se diferenciam delas que costumam ter um jeito
mais suave e introspectivo. O "normal" nessa cultura é esperar que os
meninos sintam-se atraídos pelas mulheres, mas não em ser como elas. Porém, sobram
perguntas sem respostas satisfatórias. Como entender as pessoas que desde
crianças sentem-se atraídas pelo estilo das meninas? Será que, só por essa
tendência, fatalmente desenvolverão homossexualismo ou será apenas uma fase
passageira? E as meninas que admiram mais as meninas, que são fascinadas por
pessoas famosas, será que estão sendo atraídas a se tornarem homossexuais ou
trata-se somente de simples admiração? (LIMA, 2001).
FERENCZI (1911;1992,
p.117-130) diz que: “a criança, num certo estádio do seu desenvolvimento
normal, manifesta sentimentos anfieróticos, quer dizer, ela pode transferir sua
libido ao mesmo tempo para o homem (o pai) e para a mulher (a mãe)”.
Pode ser observado em
diversas culturas do mundo que as pessoas podem ter atração pelo mesmo sexo e
se distanciar do sexo oposto, ou seja, as amizades são mais fáceis de acontecer
em grupos inteiramente masculinos ou inteiramente femininos do que em grupos
mesclados.
Até o presente momento,
os estudiosos no assunto, parecem concordar em um ponto: não há como determinar
uma causa/ motivo para Homossexualidade.
1.3 Panorama
Sócio-Histórico
FOUCAULT (2005) faz uma
análise da ciência do sexo (scientia sexualis), cujo objetivo era obter
informações sobre esse aspecto do ser humano. Segundo o autor, a partir dos
SEC. XVI e XVII houve uma proliferação dos discursos sobre o sexo, com o claro
objetivo de se obter o controle sobre o mesmo.
No Séc. XIX , torna-se
um projeto cientifico, visando produzir verdades sobre o sexo, mas claramente
comprometido com o evolucionismo e o racismo oficial. Através do discurso
médico, protegido pela pretensa neutralidade cientifica, o sexo passa a ser
relacionado a uma “moral de assepsia com interrelação entre o patológico e o
pecaminoso, associado à biologia da reprodução” . À ciência, atribuiu-se a
tarefa de produzir discursos verdadeiros sobre o sexo, e isto tentando ajustar,
“o antigo procedimento da confissão às regras do discurso científico.” (pg.
66). No caso da confissão, os fiéis eram incentivados a contar suas práticas e
desejos sexuais, mas com o objetivo de obter controle e poder sobre aquele que
confessava, já que era o representante religioso que detinha o poder de
condenar ou absolver o confessor. Aos poucos , a noção do sexo ligado a
patologia e ao pecado, foi se desvinculando do discurso religioso e
“emigrou para a pedagogia, para as relações entre adultos e crianças, para as
relações familiares, a medicina e a psiquiatria” (pg. 67).
A ciência sexual no
ocidente difere da Arte erótica existente em países orientais, que busca saber
sobre o prazer, não com o intuito de produzir verdades ou domínio sobre o
mesmo, mas visando ampliá-lo. Note que enquanto no ocidente a produção de
verdades sobre o sexo tinha como objetivo principal a obtenção de domínio e
“ assujeitamento”, os orientais, buscavam o prazer que pode ser obtido do
sexo. Por isso, para o autor, a homossexualidade é uma forma de romper com o
discurso dominante, um ato de rebeldia e não submissão aos poderes
estabelecidos e legitimados. Desta forma, a homossexualidade teria um caráter
transformador, desafiando regras e convenções.
2. Aspectos Teóricos
A seguir serão
apresentadas algumas explanações teóricas acerca dos principais aspectos
tratados neste artigo:
2.1. Sobre A Educação
A educação sempre esteve
presente na humanidade. Os indígenas, por exemplo, passavam para seus filhos
tudo o que era essencial para se tornarem grandes guerreiros. Existiam também
certas características específicas de cada tribo que eram passadas de pai para
filho, não existindo uma escola ou um educador, mas sim, a transmissão de
cultura e conhecimento retransmitidos todos os dias para a tribo (BRANDÃO,
1991).
O processo de educação
surge com a família, no momento em que os pais ensinam a seus filhos o que
julgam ser certo e como devem ser comportar. Iniciando assim a formação da
criança.
A aprendizagem é um
fenômeno natural, no momento em que o bebê vem ao mundo é exposto a vários
fatores de aprendizagem, alguns inatos, como a sucção, outros aprendidos culturalmente,
como por exemplo, a partir da identificação de sons até a consolidação da fala
com uma linguagem específica. A educação está em todo lugar, e em situações
completamente diferentes umas das outras, dependendo muito da cultura de
determinado povo, porém, não há um único modelo de educação, ela pode estar
presente nas escolas, teatros, famílias, etc (BRANDÃO, 1983).
A escola, por exemplo,
faz parte do meio de aprendizagem do indivíduo, pois assim, este é capaz de
adquirir conhecimentos referentes a áreas específicas, como por exemplo,
Matemática, Geografia, História, Língua Portuguesa, entre outras. Porém a
escola não transmite apenas conhecimentos obtidos pela ciência, mas também
educa a criança para a vida, dando continuidade ao processo da família.
O processo de
aprendizagem busca desenvolver no indivíduo o interesse, a curiosidade e a
motivação, para assim estimular a vontade de aprender.
Aprender significa tornar-se, sobre o
organismo, uma pessoa, ou seja, realizar em cada experiência humana individual
a passagem da natureza à cultura. (BRANDÃO, 2006, p. 22).
A educação forma a
personalidade do indivíduo médio e o prepara para viver a cultura, é pela
educação que a gênese da cultura se opera no indivíduo. Pode-se descrever a
cultura mostrando como o indivíduo a assimila e como nele se constitui, à
medida que ele a vai assimilando. Isto porque a educação é, ao mesmo tempo, uma
instituição que o indivíduo encontra e o meio que ele tem para encontrar todas
as instituições (DUFRENNE apud BRANDÃO, 2006).
A formação do adulto é
um processo de aquisição pessoal de saber, crença e hábito de uma cultura; essa
passagem de cultura de um sujeito para outro é denominada hoje como educação,
ou seja, a educação nada mais é do que um processo contínuo que busca a
transmissão de conhecimentos, uma relação de troca e de saber entre as pessoas,
que visa uma melhor integração individual e social.
A educação é um processo
de produção de conhecimento e qualificações que juntas constroem tipos de
sociedades, onde, a educação de uma certa sociedade tem identidade própria,
pois ela está estruturada de acordo com a sua cultura.
2.2. Homossexualidade na
Escola
Nos tempos atuais há uma
grande necessidade de repensar sobre as relações humanas, focando
principalmente na homossexualidade. Mesmo não obtendo respostas dadas pela
ciência ou pela psicanálise ajudam na mudança rápida e na opinião das pessoas.
Antigamente a homossexualidade era encarada como algo errôneo, mal visto pela
sociedade. (MIRELLA, 2009).
Segundo MIRELLA (2009),
estamos em uma face de transição de opinião que vem sendo notório a todos. É
comum vermos casais homossexuais em bares, restaurantes, festas, cinemas, e
cada dia mais essa liberdade de escolha sexual começa a ser aceita, mostrando a
mudança da sociedade.
Um dos primeiros
contatos sociais que a criança e o adolescente encontram em suas vidas são as
escolas, onde aprendem lógica, línguas e principalmente sobre outras culturas e
sociedades. Porém, nem todos os assuntos são abordados com afinco, como
por exemplo, a homossexualidade ainda tratado com preconceito
e desinformação. É comum nas escolas brincadeiras de mau gosto,
maus tratos físico e/ou verbal ao individuo homossexual, podendo causar-lhe
grandes danos psicológicos e morais, sem que os demais percebam e assim dando
continuidade as suas “brincadeiras”. As escolas tanto particulares quando
publicas deveriam abranger mais sobre esse assunto, dando oportunidade dos
alunos se aproximarem mais e de obter mais conhecimento. Normalmente as escolas
particulares não dão ouvido ao aluno homossexual que esta passando por
problemas na escola, causando um grande impacto na vida social desse aluno.
(SANTOS, 2010).
Aprendemos a viver em
sociedade e para a sociedade é na escola que o aluno conhece seus direitos e
deveres, se manifesta, constrói sua própria opinião e aceita as diferenças dos
outros, o professor entra como um gancho mediador de todo o conhecimento que
está sendo construído e se necessário trabalha para modificá-lo. Para se
trabalhar com o assunto da homossexualidade em sala de aula, observamos varias
dificuldades, como o constrangimento por parte de alguns alunos , por tratar-se
de um assunto “reprimido” na sociedade, causando conflitos entre a escola
e os pais, que muitas vezes desinformados, julgam a disciplina e assim criam
obstáculos. (MIRELLA, 2009).
A capacitação dos
professores e as ações educativas da escola, são fundamentais para favorecer o
fortalecimento da educação sexual, focando principalmente nos assuntos sobre
homossexualidade e lesbianismo, potencializando a possibilidade de relação
humanas mais igualitárias. (MIRELLA, 2009).
2.3. Homofobia e a
Constituição
A homossexualidade não é
mais vista como doença, como desvio, como crime pela medicina e psicologia,
porém a escola continua a esquivar-se de tratar esse assunto, ou quando tenta
mencionar o tema, este vem carregado de preconceitos e piadas contribuindo
assim para a exclusão e violência desse grupo social.
Discutir sobre a
homossexualidade é um tabu nas escolas, causando diversas reações, desde
surpresa, vergonha e risos a horror, desdém e desconfiança. A homofobia
incomoda tanto o homossexual quanto que a reproduz.
A Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicou em 2004 o estudo Juventude e
Sexualidade, fruto de uma pesquisa em 14 capitais brasileiras. O levantamento
indicou, entre outros tópicos, que cerca de 27% dos(as) alunos(as) não
gostariam, por exemplo, de ter um(a) colega de classe homossexual, 60% dos
professores(as) não sabem como abordar a questão em sala de aula e 35% dos pais
e mães não apóiam que seus filhos(as) estudem no mesmo local que gays e lésbicas.
(GUIA PARA EDUCADORES(AS), 2006, p.8).
A pesquisa realizada
pela UNESCO já revela como a maioria das escolas lida com a homossexualidade,
esta evita falar ou discutir o tema.
A homossexualidade nas
escolas é muitas vezes vista como uma prática desviante, amoral, fora dos
padrões aceitáveis para um processo educativo, ou simplesmente ela é
silenciada, percebida, mas ignorada (ABRAMOVAY, 2004).
Dentro dessa educação
homofóbica que vem acompanhada de uma falta de sensibilidade para o diferente
acaba-se tendo como resultado o silencio e a dissimulação. A incapacidade de
muitas escolas em estudar esse tema, diluir os preconceitos e cessar as piadas,
comentários maldosos, transferências de alunos por não adequação à escola e aos
padrões por ela imposta, acaba resultando em quando não é possível esconder ou
silenciar a manifestação de alunos homossexuais, a homofobia atua da forma
cruel e intolerante entre os alunos e com a anuência ou omissão de professores.
Outra contradição que se
pode encontrar na escola é que ao mesmo tempo em que ela reproduz a homofobia
negando o reconhecimento para esses sujeitos, esta se alicerça em leis e
estatutos que rejeitam qualquer tipo de exclusão, desrespeito a liberdade e
integridade humana. Assim, todas as escolas deveriam respeitar a Constituição
Federal de 1988, que em seu artigo 5° diz o seguinte:
Todos são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza, garantindo-se a todos a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade. Ninguém
será obrigado fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei.
(parágrafo 2º)
III - Ninguém será submetido à tortura,
nem a tratamento desumano ou degradante.
Também é encontrado no artigo 15 do
Estatuto da Criança e do Adolescente (1990):
Art. 15 – A criança e o adolescente têm
direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e sociais,
garantidos na Constituição e nas leis.
A homofobia é uma
produção histórica cultural que já foi justificada nas ciências e leis, e a
escola inserida nessas condições históricas as reproduz e reafirma o que a
sociedade exige dela, portanto ela não é criação exclusiva da escola, é produto
de toda uma produção histórica ao longo de décadas.
A homofobia acabou
adquirindo explicação para ser praticada e foi banalizada pela sociedade e
escola, na qual as atitudes preconceituosas chegam a ponto de tornarem-se
normais.
A escola deve ser pensada como um
ambiente onde valores humanos, igualdade, respeito, solidariedade e democracia
sejam os pilares fundamentais, e onde também, a exploração, e qualquer forma de
discriminação seja rigorosamente combatida. Um novo mundo está por nascer e,
talvez ele dê seus primeiros passos na escola, para isso precisamos tomar
consciência da discriminação e aos poucos desconstruirmos preconceitos,
racismos, machismos e homofobias (LUCION, 2009, p.14).
3. Conclusão
De forma geral, o
assunto “Homossexualidade” é abordado na escola, porém sem dar muita
ênfase, tendo em vista que as principais questões são DST, gravidez, uso de
preservativo e prevenção.
Segundo (LUCION,
2009),a educação sexual não está voltada para a diversidade colocada, mas sim
em padrões heterossexuais fixos que acabam produzindo pessoas infelizes,
cercadas de culpa por serem diferentes. A sociedade de padrões brancos,
masculinos, heterossexuais acaba refletida na escola que segue esses mesmos
padrões transformando aqueles que não se encaixam nesse esquema em pessoas indesejáveis,
passiveis de serem ridicularizadas, desprezadas, segregadas, vítimas das piores
violências e ódio que assim é chamado de homofobia.
Neste momento
encontra-se uma grande contradição, pois o papel da escola e dos educadores é
de inclusão. Há programas de inclusão dos portadores de necessidades especiais,
inclusão do ensino indígena nas aldeias, da cultura afro, dos adultos para
alfabetização e, no entanto, sobre as manifestações de sexualidade a escola
mantêm-se silenciosa, contribuindo muito para a pratica da homofobia.
FERNANDES (2007) analisa
a relação da família com adolescentes homossexuais, mas tem seu foco no
contexto escolar, uma vez que a escola é o ambiente que deve favorecer o
respeito pela diversidade. Embora, na pratica as coisas não sejam bem assim,
pois na escola o adolescente homossexual sofre discriminação e preconceito, e
dificuldade de aceitação por parte de alunos e professores. Os amigos tendem a
se afastar, pois acabam também sendo rotulados como homossexuais e sofrendo o
mesmo tipo de discriminação e preconceito.
Desta forma, o adolescente
homossexual acaba sendo vitima de muito sofrimento, provocado pela rejeição no
espaço que deveria servir como mediador e acolhedor destes jovens. Os
homossexuais não são vistos como normais e produtivos, gerando um isolamento
por parte do próprio sujeito, o que compromete a constituição de sua
identidade, fazendo com que o mesmo ou repense sua opção sexual ou se
marginalize buscando preservar sua opção . Isto se deve segundo LOURO (apud
Fernandes 2007), ao fato de que as pessoas sentem a heterossexualidade ameaçada
e se obrigam a afirmá-la de todas as formas possíveis. Na escola, os
alunos não são estimulados a serem solidários com seus colegas “diferentes”,
étnicos, sexuais ou com necessidades especiais.
Vê-se aí, que a escola ao não
abordar estas questões, acaba por legitimar as marcas da diferença. Segundo a
autora, a sociedade não discute abertamente a homossexualidade, com medo de que
isso possa interferir na orientação sexual dos adolescentes, mas que a escola
tem a obrigação de discutir o tema, uma vez que é uma instituição social, cuja
função é formar cidadãos.
A escola deve ser fonte de conhecimento
e desmistificação de tabus e preconceitos infundados. A escola se apresenta
ignorante quando não aprofunda tais questões, não adianta falar sobre o assunto
se a forma de apresentá-lo estiver carregada de preconceitos, sem um preparo do
profissional que se dispõe a falar (FERNANDES,
2007).
Somente através da
discussão objetiva, clara e isenta de preconceitos, é possível tratar a
sexualidade de forma ampla, dentro do espaço escolar, pois o silencio fortalece
o preconceito e a desinformação.
Fonte:Psicologado
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