domingo, 18 de dezembro de 2011

Perversão à Luz da Psicanálise


Resumo: O tema Perversão passou por várias modificações ao longo da sua construção, deixando margem para diversas interpretações. Através de uma revisão de literatura, e sob uma ótica psicanalítica, este artigo procurou compilar essas interpretações e fazer um paralelo entre elas, a fim de verificar a evolução desse construto, bem como elucidar as principais características desse termo. Através disso, chega-se a esse conjunto de comportamentos psicossexuais que buscam seu prazer de forma contínua, que é a perversão.


Palavras-chave: Perversão. Psicanálise. Neurose.


Introdução
O tema Perversão teve diversas interpretações ao longo da sua construção, deixando margem para conceituações claras, objetivas e até mesmo denotações pejorativas. A psicanálise, em especial, construiu todo um aporte teórico sobre a Perversão, levando em conta a visão predominante da medicina da época, a estruturação da perversão durante a infância, a diferenciação para com as neuroses e psicoses, além do seu mecanismo de recusa (Verleugnung).

De forma geral, esse artigo veio caracterizar a perversão em suas diferentes épocas, concomitante às orientações psicanalíticas, e de forma específica, verificar a evolução do conceito da Perversão buscando fazer analogias entre suas diversas interpretações.Para tanto, foi elaborada uma revisão de literatura a partir da consulta a documentos, como artigos indexados na base de dados do sítio da internet “scielo”, periódicos e livros na Universidade Estadual do Piauí e na Universidade Federal do Piauí.

Ao se analisar a trajetória da perversão enquanto definição detém-se inicialmente à Medicina, que trazia uma visão patológica que a caracterizava como um “desvio”. Freud (1905), em “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", remete à criança enquanto ser sexual e à sua característica perverso-polimorfa, que pode permanecer no adulto, trazendo também as neuroses como o “negativo” da perversão. A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e o complexo de Édipo, o que trouxe contribuições para os estudos lacanianos da perversão enquanto estrutura psíquica.

 E em 1927, Freud inaugura “O Fetichismo”, que culmina na recusa (Verleugnung) da castração e nas divisões do ego.

A perversão esboçada em seu percurso teórico é um construto complexo, que passa por várias etapas para a construção de um conceito estruturado, passando por “pré-conceitos”; por juízos de valor, éticos e morais; pela construção dessa estrutura na infância, dentre outros. Através disso, chega-se a esse conjunto de comportamentos psicosexuais que buscam seu prazer de forma contínua, considerando a realidade e ao mesmo tempo a negando, substituindo-a pelo seu próprio desejo.


1. Perversão: um Esboço Conceitual

É freqüente no discurso de pessoas leigas uma associação entre perversão e perversidade. Não obstante, a origem do termo deixa margens para essa associação, pois deriva do verbo latino pervertere, que remete à noção de "pôr de lado", ou "pôr-se à parte", que para Aurélio (2001) é "ato ou efeito de perverter (-se); corrupção, depravação, desvio da normalidade de instinto ou de julgamento, e devido a distúrbio psíquico."

 Esse conceito traz a perversão num sentido moral e ético, o que nem sempre faz jus à seriedade e à profundidade com que o assunto merece ser compreendido e analisado. Dessa forma, a escolha da palavra perversão para nomear um desvio sexual denota um sentido pejorativo, impregnado de “pré-conceitos”.

É válido lembrar que, antes da psicanálise, a sexualidade referia-se somente ao conjunto dos atos ligados à relação sexual, e em especial à reprodução. Freud, de maneira geral, trouxe uma nova concepção a esse termo, ao dizer que todos os movimentos vitais tanto tendem à conservação do indivíduo, como comportam um quantum de satisfação erótica ou de negação dessa forma de prazer. Há libido investida em todos os atos psíquicos, de uma forma ou de outra.

Dependendo da forma que essa libido é investida, pode haver prejuízos ao indivíduo, quando este passa a não mais ter o devido cuidado com a sua integridade física e mental, por exemplo. Ele, por sua vez, pode até causar prejuízos à sociedade se, além de si próprio, prejudicar terceiros, ferindo a ordem vigente. O que era considerado normal para a sociedade, dentro desse contexto, trouxe também à tona aquilo que é anormal, o que perverte a ordem vigente.

A partir da leitura de Valas (1990), vê-se que, desde o século XIX, a medicina, representada na época por grandes psicopatólogos como Krafft-Ebing e Havelock Ellis, aborda esse termo como classificação de uma enfermidade, ou descrição de algum tipo de degeneração. Em seus estudos, eles caracterizaram as práticas sexuais que se desviavam dos padrões éticos e morais para a sociedade através de ligações entre as perversões e as desordens neurofisiológicas.

Subsidiado por essa corrente clássica, Freud resolve estudar esses “desvios sexuais” então descritos somente na ótica médica. Só que de início ele lança sobre as perversões um julgamento mais moral do que o olhar de um homem de ciência,correndo então o risco de sujeitar-se às críticas da época, como de fato ocorreu.

Dessa forma, os estudos sobre a perversão surgem recheados de conflitos e divergências, e esta aparece como um construto dinâmico, complexo e de difícil convergência entre as diversas orientações teóricas que compõem a psicanálise.

Em 1905 esse termo foi retomado por Freud, que o trouxe para a psicanálise fazendo uma relação à sexualidade, sem qualquer aporte teórico em conotação pejorativa ou valorizadora, ou seja, sem emitir juízos de valor, numa linguagem objetiva e não tendenciosa.

As perversões não são bestialidades nem degenerações no sentido patético dessas palavras. São o desenvolvimento de germes contidos, em sua totalidade, na disposição sexual indiferenciada da criança, e cuja supressão ou redirecionamento para objetivos assexuais mais elevados — sua “sublimação” — destina-se a fornecer a energia para um grande número de nossas realizações culturais (FREUD,1905, p.55-56).

Na sua obra "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade" Freud (1905) apresenta pela primeira vez o conceito de perversão. Trata como a permanência na vida adulta de características perverso-polimorfas, típicas da sexualidade pré-genital infantil, em detrimento da sexualidade genital por ele considerada normal.

Em sua obra Freud (1905) nos traz que é na infância que ocorre a estimulação das zonas erógenas espalhadas pelo corpo todo, e todas essas práticas constituem a sexualidade normal de cada indivíduo. Sendo assim a criança é um sujeito sexual que procura se experimentar e então se descobrir. Para a época, principalmente, e até mesmo nos dias atuais essas conclusões causam certo impacto.

 Mas, centrado no que formulou, Freud pôde então demonstrar que apesar de poucas vezes uma criança vivenciar experiências sexuais que os adultos chamam de normais, ela tem inúmeras práticas que estavam listadas na classificação de perversão. Seja na masturbação “normal”, nos jogos sexuais ou em seu relacionamento com animais, a criança é um perverso polimorfo, no sentido de ser capaz de assumir diferentes formas dentro desse contexto.

2 Neurose, Psicose e Perversão
Esse polimorfismo das manifestações da sexualidade infantil e o fato de que seus desvios intrínsecos se encontram em todos os seres humanos, acaba gerando problemas para Freud, ao definir perversão. Segundo Valas (1990) Freud formula, então, que para além de certas manifestações incontestavelmente patológicas (coprofagia, necrofilia), só pode distinguir a perversão da normalidade porque perversão se caracteriza por uma fixação prevalente, até mesmo total, do desvio quanto ao objeto, e pela exclusividade da prática quanto ao desvio com relação ao objeto. Esse comportamento também entra nessa categoria quando causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo na vida do indivíduo e/ou conflitos com terceiros.

Freud (1905) então observou que há adultos que se mantêm na prática de um ou outro comportamento sexual de forma exclusiva, muito mais como defesa do que como grande capacidade de sustentar a liberdade sexual, pois em sua infância as diversas correntes da sexualidade coexistiam sem um eixo organizador que as aglutinasse e subordinasse em torno de si. Desse modo, a continuidade de uma sexualidade infantil perverso polimorfa contextualizaria o perverso.
Como diz Ferraz (2002, p.25):

O que diferencia a sexualidade infantil daquela do perverso é o fato de que, na criança, tudo ainda é apenas potencialidade. Nenhum eixo organizador, tirânico, dominou a cena sexual. No adulto perverso, ao contrário, a sexualidade está definida e cristalizada: um eixo pré-genital preside a vida sexual, tão despoticamente quanto a genitalidade o faz na vida sexual "normal".


Por diversos motivos, sejam eles constitucionais ou exteriores, a pulsão sexual pode conduzir a desvios, como neuroses, psicoses ou perversões. A neurose se apresenta como “um recalcamento sexual que ultrapassava a medida do normal”. Freud (1905), no caso Dora, definiu as neuroses como o “negativo” da perversão, pois nas neuroses os impulsos pervertidos, após terem sido reprimidos, manifestam-se a partir da parte inconsciente da mente, uma vez que, em ambas as estruturas psíquicas existem determinações e formulações bem distintas uma da outra, no que se referem a mecanismos de defesa, modos de manifestações, entre outras. Porém, ambas são iguais em um aspecto: têm sua origem na sexualidade infantil.

Tudo começa a se definir, diante da comparação entre a neurose e a perversão, já que Freud (1905) assume as divergências entre as duas estruturas como processos distintos de construção psíquica. O que realmente começa a ser identificado é que, enquanto os neuróticos funcionam psiquicamente adequando o ego às exigências do ambiente, recalcando conteúdos conflitantes e angustiantes, no psicótico, o ego fica à mercê do id, sujeitando-se a ele, rejeitando a realidade, apropriando-se de uma realidade substituta, onde ocorreriam as alucinações e os delírios. Na perversão, o desejo aparece como vontade de gozo, e o ato é praticado geralmente como vitorioso, isento de culpa. O perverso sabe o que quer, enquanto o neurótico reprime esse desejo.

No que tange ao aparelho psíquico do perverso, surge uma nova formatação, diferente dos neuróticos e psicóticos. Agora o ego negocia suas exigências com os desejos do id e com a realidade. Os perversos colocam em prática aquilo que os neuróticos não têm coragem de manifestar. Inclusive, estes reprimem, recalcam muitos dos atos característicos dos perversos, isto é, na perversão é possível considerar, ao mesmo tempo, as exigências do id e as da realidade, sem que uma anule ou interfira na outra. Não há nem o recalcamento dos desejos, como ocorre na neurose, nem rejeição à realidade, como ocorre na psicose (AULAGNIER-SPAIRANI, 1967).

Logo, pode-se entender que a neurose esconde um desejo perverso, encoberto pelo sintoma, e a partir deste ponto de vista, com o auxílio da psicanálise, podemos reconhecer que todos nós temos um conjunto de neuroses, e da mesma forma, passamos assim a perceber a perversão como característica que pode ser descoberta, até mesmo no sujeito dito normal ou saudável.  Também no adulto que já “conquistou” a maturidade podem conservar-se em sua personalidade (em um lugar secreto) partes infantilizadas que se revelam em situações de hiperexcitação, ou mesmo no prognóstico da perda do objeto amado.


3. Perversão e Estrutura
 A partir de 1919, Freud começou a relacionar perversão e Édipo nos textos "Uma criança é espancada: Contribuição ao estudo da origem das perversões”, "A dissolução do complexo de Édipo”, e "A organização genital infantil: uma interpolação na teoria da sexualidade". Nesses textos, ele procura responder a questão da perversão a partir da articulação entre o complexo de Édipo e o complexo de castração, o que proporciona um avanço considerável na solidificação dos seus estudos.

No entanto, é Lacan quem inaugura uma psicanálise na qual a perversão se coloca como um paradigma estrutural, mesmo que essa noção não admita uma só interpretação, trazendo o conceito de estrutura como um “conjunto de elementos que se constituem na relação, que são exclusivamente interdependentes e que se regem por determinadas leis que fazem parte de uma constituição interna”.
Lacan remonta o complexo de Édipo como uma estrutura intersubjetiva que produz efeitos de representação nos personagens que a integram, evidenciados pela localização que cada um norteia em função do falo.

Conforme Andrade (1992), a dinâmica edipiana se desenvolve movida pela dialética do ser e do ter, segundo a qual o sujeito parte de uma posição onde ele é identificado ao falo da mãe para uma outra posição, onde ele, tendo renunciado a esta identificação pela aceitação da castração simbólica, tende a identificar-se seja àquele que é suposto ter o falo (pai), seja àquela que é suposta não o ter (mãe). Esta operação se atualiza graças a um processo de simbolização inaugural: a metáfora do Nome-do-Pai.
Essa metáfora lacaniana contextualizada em um foco cristão mostra que o Nome-do-Pai é o significante que substitui a simbolização do sujeito na presença ou ausência da mãe. Concomitante, ao analisar a obra de Freud, podemos destrinchar a participação do pai numa constituição da realidade psíquica, o que é uma encruzilhada estrutural do sujeito. Lacan então tomou como base esse legado freudiano e acrescentou o Nome-do-Pai como um elemento significante, além de agora apresentar o Falo na constituição edipiana, já que é impossível tratar-se de estrutura psíquica sem agregar a questão fálica.

De acordo com Andrade (1992), uma criança, especialmente na primeira infância, se apresenta em sua coleção de reflexos como sendo o único objeto de desejo da mãe. Logo essa criança exerce uma reciprocidade muito grande para com seus cuidados maternos. A mãe é a detentora do poder, ela é capaz de suprir todas as carências do infanto. Nesse cenário, o gozo, na maioria das vezes, é propiciado de forma natural e intensa. Ele mescla além de necessidades orgânicas, um prazer determinante em suas relações de afeto.

Por se apresentar de forma tão sobressalente, a mãe vem a ocupar o lugar do Outro simbólico na estrutura psíquica da criança, que já reconhece o poder de gozo e a onipotência da mãe. Dessa forma, o desejo da criança será então o desejo do Outro.

O Outro, aqui representado pela mãe, é o ditador desse desejo infantil, e quando a criança se percebe desse fato, além de visualizar que a mãe possui outro desejo que não mais a sua vontade, acaba entrando em grande conflito de identidade, visto que agora a figura paterna é o alvo da mãe.

É nesse tocante que se avaliam as frustrações e angústias da criança, que pode então procurar novas formas de desejo do Outro, vivenciando então a castração. O pai simbólico é um rival, e isso pode representar uma intensa perturbação no filho que precisa da mãe para resignificar seus objetos de desejo.

Andrade (1992) fala que, não obstante, se por algum contratempo esse estado de perturbação e angústia é anulado ou danificado, a dinâmica edipiana tente a se cristalizar numa forma peculiar de economia de desejo, formando assim uma estrutura perversa.

O indivíduo na perversão se fecha numa representação que não pôde atribuir um significado ao que não estava presente, ao que não identificoue assim se impossibilita de entender a castração. E essa ineficácia traz confusão na descoberta do desejo no infanto.

Em suma, o perverso despeja na castração a resposta para a falta do pênis da mãe, e esse processo de castrar na visão da criança foi realizado pelo pai, que forçou essa união com a sua mulher (mãe) e demonstrou assim todo o seu poderio.

4. Fetiche e a Recusa da Perversão
No trabalho “O Fetichismo”, Freud (1927) coloca o fetiche como substituto para o pênis da mulher (mãe), sendo a recusa (Verleugnung) dessa percepção traumática o mecanismo psíquico de defesa utilizado na perversão. A mesma está presente na constituição de qualquer psiquismo, como uma forma inicial na elaboração de mecanismos de defesa do psiquismo.

De forma enfática, é durante as faltas da mãe que o falo assume a função de satisfação de desejo e o fetiche é então um substituto do pênis, um substituto fálico atribuído como símbolo pela criança à mãe. Freud apresenta o fetichismo como sendo uma espécie de modelo geral por seus elementos invariantes, sustentando-se, portanto, como uma estrutura psíquica.

Freud, segundo Valas (1990), indica que o fetiche não tem a menor necessidade de parecer com os órgãos genitais, nem com outros objetos que reproduzam a forma do pênis, representando-o. Para que a representação no objeto do fetiche seja satisfatória, é preciso que esse objeto seja próximo ou estabeleça alguma relação de proximidade com o objeto real de desejo. Como demonstra também o seu modo de surgimento, convém precisar que o fetiche não é o falo, mas o véu por trás do qual se deixa esboçar a possibilidade de sua presença oculta. É daí que se origina, além disso, o valor erótico do véu, sempre presente não apenas no exercício do fetiche, mas de todas as perversões.

Seguindo essa linha de pensamento pôde-se perceber que o fetiche não se atém ao falo propriamente dito, mas sim às angústias e frustrações vivenciadas na castração. Seria como um “véu” metaforizado por Valas (1990), o qual remonta por trás de uma estrutura edipiana um valor de cunho erótico. Assim, o “véu” funcionaria como uma barreira, algo entre o que está aparente e o que representaria através da realidade inconsciente.

Buscando facilitar a análise teórico-clínica da perversão, Freud procurou entender mais sobre os “véus” que se ocultavam na formatação psíquica do perverso. Assim, a recusa (Verleugnung) se apresentaria de forma mais detalhada como um processo de defesa e de construção do fetiche, sendo este um substituto do pênis materno, isto é, o sujeito enxerga e nega ao mesmo tempo a constatação da ausência de pênis na mãe. É a partir daí que passamos a entender a especificidade do modo de relação do perverso com a realidade. A recusa da realidade consiste na recusa em aceitar a ausência do pênis na mulher (mãe) emparelhada às frustrações e angústias do infanto ainda na ameaça dessa perda.

Na sua obra “Clivagem do ego no processo de defesa”, Freud (1940) reforça esse raciocínio trazendo de forma detalhada a concepção de que há uma clivagem intrapsíquica que permite a coexistência de duas realidades inconciliáveis que jamais se influenciam. Enquanto uma considera a realidade, a outra a nega, substituindo-a pelo seu próprio desejo. Assim, o perverso conseguiria viver uma vida aparentemente normal segundo os parâmetros da sociedade e ao mesmo tempo manter comportamentos considerados inaceitáveis segundo a norma social.

O incomum, o inesperado e o que costuma estar fora de um padrão ou de regras pré-estabelecidos pela sociedade geralmente chamam a atenção, podendo causar espanto, medo, curiosidade. A ciência, por assim dizer, tem em suas linhas de ação as tentativas de explicar esse incomum. Porém, o que é “normal” geralmente não fornece problemas à sociedade, estando integrado às leis, normas e regras, explícitas ou não. Dessa forma, o que é considerado normal dependerá da cultura e da sociedade em que se está inserido, bem como as reações e conseqüências acerca daquilo que for considerado fora desse padrão, estando aí conectada a questão da escolha sobre enfrentar ou não essas conseqüências.

Isso faz jus à classificação que Freud (1905) traz da perversão, em seu livro "Três ensaios sobre a teoria da sexualidade", em que “as perversões são ou transgressões anatômicas quanto às regiões do corpo destinadas à união sexual, ou demoras nas relações intermediárias com o objeto sexual, que normalmente seriam atravessadas com rapidez a caminho do alvo sexual final”.

Porém, esses conceitos trazem à tona duas questões que se interligam necessariamente: por um lado, a aprendizagem, os significados atribuídos ao conceito de normalidade subordinam-se àquilo que foi recebido da sociedade, da cultura, das instituições em que o indivíduo está inserido. Por outro lado, os significados se processam e se transformam a partir das ações e pensamentos do próprio indivíduo, fazendo com que este se torne aquilo que ele é, nesse caso, perverso ou não.

Em outras palavras, somos produto de nossas experiências, vivências, adquirindo um “sentido pessoal” acerca de tudo isso. Caberia a nós, portanto, a atribuição de significado daquilo que chega a nós, sendo necessário discernir e escolher as normas e o perverso para nossas vidas.

Considerações Finais
 Visto que os conceitos apresentados sobre perversão passaram por alguns desconcertos impregnados de doses moralistas, e apesar das inúmeras controvérsias ideológicas, cabe aqui considerar a perversão como um conjunto de comportamentos psicosexuais que buscam um prazer de forma contínua.

Essa estrutura da personalidade inicia-se a partir da infância, pois a criança é um sujeito sexual que constantemente se experimenta e então se descobre. A partir daí, desse experimentar e descobrir, é que encontramos a distinção da perversão para com a normalidade. A perversão se caracteriza por uma fixação do desvio quanto ao objeto de desejo, e pela exclusividade de sua prática. Essa sexualidade estaria definida e cristalizada, por conta de um prejuízo na estruturação do Édipo na vida da criança. O perverso sabe o que quer, sabe o foco do seu desejo, mas nega a raiz de onde ele se originou, considerando a realidade e ao mesmo tempo a negando, substituindo-a pelo seu próprio desejo.

Cabe então ao próprio indivíduo, dentro da sua sociedade, relacionar e discernir o normal e o “pervertido”, já que o “aceitável” nada mais é que uma convenção social. Conforme aprendemos com Freud, somos necessariamente seres sexuais, transferindo, recalcando, liberando nossa libido, e variando inclusive nosso objeto de interesse ao longo da vida, estando ele dentro da perversão, ou não.


Fonte: psicologado

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