Resumo: O presente trabalho pretende de uma
forma resumida, contribuir com conhecimento atualizado sobre o sono: suas
fases, características, tipos e ainda apresentar uma breve análise comparativa
entre as visões da Psicanálise e da Neurociência sobre o assunto, com o
objetivo de identificar possíveis pontos de contato e de divergência entre
elas.
Palavras-Chave: Sono, Neurociência,
Sonho, Psicanálise
Introdução
Este estudo é importante
por abordar o sono, pois o ser humano passa cerca de um terço de sua vida
dormindo e esta é a maior prova de que o sono é realmente importante em nossas
existências. Uma boa noite de sono pode implicar em uma vida mais saudável e
alguns anos vividos a mais.
O desempenho das funções do nosso cérebro e do
nosso corpo este diretamente ligado ao descanso obtido durante a noite.
Uma
noite mal dormida pode nos causar danos como falta de coordenação motora e a
lentidão no raciocínio. Sabemos que a nossa saúde depende de diversos fatores,
mas o sono é primordial, pois não é apenas uma necessidade de descanso mental e
físico. É durante o sono que ocorrem vários processos metabólicos e se
alterados, podem afetar o equilíbrio de todo o organismo.
Há alguns anos atrás o
sono era visto como um período de descanso, cuja única característica era a
inconsciência. Nos últimos anos, aprendeu-se bastante sobre o sono, e graças ao
desenvolvimento tecnológico e as novas invenções, como por exemplo, o
eletroencefalograma, foi possível estudar as ondas cerebrais e demonstrar que o
sono não é uma um período inativo de descanso, mas um período de altas
atividades.
Apesar das inúmeras descobertas a respeito do assunto ainda são
necessárias muitas pesquisas, pois esse assunto carece ainda de muitas
respostas a muitas indagações, principalmente sobre alguns estágios do sono.
Estudos provam que quem dorme menos do que
o necessário tem menor vigor físico, envelhece mais precocemente, está mais
propenso a infecções, à obesidade, à hipertensão e ao diabetes.
O presente artigo tem como objetivo descrever a fisiologia do sono, bem como as
suas fases e suas características, conhecer as ondas cerebrais para análise dos
mecanismos envolvidos no sono, a regulação do ciclo sono vigília, bem como
analisar as contribuições da Neurociência e da Psicanálise com relação ao tema.
1. O Sono
1.1 Fisiologia do Sono
A partir da década de
cinqüenta o sono era considerado um processo de desligamento do sistema nervoso
central. Na verdade, o Sono é um processo biológico coma finalidade de
reparação e manutenção do equilíbrio psicossocial do ser humano e, hoje se sabe
que o sono normal está estruturado fases e estágios (PRIMO, s.d.).
De acordo com Bezerra
(2003), o sono normal segue uma estrutura que compreende fases e estágios
padronizados, e podem ser interrompidos de várias maneiras e por várias causas.
As fases do sono diferem entre si em todo seu ciclo e são divididas em
dois estados fisiológicos bem distintos, denominados fase de sono REM
(Movimentos Oculares Rápidos) e de sono NREM (Sem Movimentos Oculares Rápidos).
O sono leva a uma imobilidade relativa, diminuição das atividades cerebral em
diferentes pontos do sono, em determinados estágios. A fase REM possui apenas
um estágio e a fase NREM apresenta quatro estágios, onde o sono se inicia
através dos estágios do sono NREM. O sono está bem organizado e estruturado em
ciclos e o NREM corresponde por 75% do sono total e 25% no estado REM. O sono
REM e o sono NREM se alternam durante a noite.
Segundo Konkiewitz
(2010) o sono não-REM esta relacionado com o repouso, sendo
excepcionalmente relaxante e está relacionado à diminuição do tônus
vascular periférico e de funções vegetativas. Ocorrerá uma redução da pressão
arterial entre 10 a 30% e o ritmo respiratório e o metabolismo também
diminuirá. O tônus muscular, a temperatura e o consumo de energia do corpo
estão diminuídos o e o movimento corporal é mínimo. Ocorre movimento no corpo
durante o sono não-REM. O ritmo cardíaco, a respiração e os processos
renais ficam diminuídas, enquanto os processos digestivos aumentam.
No sono NREM, as pessoas
normalmente não se recordam de nada ou quando se recordam, essas lembranças são
muito vagas. Isto não quer dizer que não tenham sonhado o que ocorreu é que não
houve consolidação de sonhos na memória durante o sono não-REM. Quando são
lembrados, os relatos desses sonhos tendem a ser mais curtos, menos nítidos, com
menor conteúdo emocional e mais coerentes que os ocorridos durante o sono REM.
Ainda em Konkiewitz
(2010) o sono REM no EEG parece quase indistinguível daquele de um encéfalo
ativo, em vigília, com oscilações rápidas e de baixa voltagem, muito mais parecido
com o do estado acordado que com o de dormindo. O consumo de oxigênio pelo
encéfalo é mais elevado no sono REM do que quando estamos acordados e
concentrados. Há uma perda quase total do tônus muscular esquelético e o corpo
está realmente incapaz de movimentação.
As freqüências cardíacas e
respiratórias aumentam, mas tornam-se irregulares. Os músculos que controlam o
movimento dos olhos e os pequenos músculos do ouvido interno estão nitidamente
ativos. Com as pálpebras fechadas, os olhos ocasionalmente movem-se com rapidez
de um lado para o outro.
1.2 Ondas Cerebrais e os
Estágios do Sono REM e do Sono NREM
Conforme citado no
Wikipédia s.d., são quatro os tipos de ondas cerebrais detectadas no EEG,
denominadas beta, alfa, teta e delta. As ondas beta são as mais rápidas,
maiores que 14Hz e sinalizam um córtex em vigília. As ondas alfa situam-se
próximo a 8 e 13Hz e estão presentes em estados de vigília, em repouso e
sonolência. As ondas teta estão entre de 4 a 7Hz e ocorrem durante alguns
estados de sono. Já as delta, muito lentas e menores que 4Hz, indicam um sono
profundo.
Segundo Primo, s.d., o
sono na fase REM constitui cerca de 20 a 25% do tempo total do sono,
caracterizando um sono curto, onde o padrão de ondas do EEG é similar ao estado
de vigília, porém a pessoa está totalmente adormecida. O sono REM é responsável
pelo reparo cerebral, especialmente processos sintéticos cerebrais, e
relacionados com a recuperação psicológica.
De acordo com Konkiewitz
(2010), os 4 estágios não-REM do sono são divididos de acordo com a
atividade elétrica cerebral em cada momento do sono, captada no
Eletroencefalograma (EEG). O registro do EEG é um conjunto de muitos traçados
irregulares simultâneos, que indica alterações de voltagem nas correntes que
fluem durante a excitação dos neurônios do córtex cerebral. A classificação dos
quatro estágios NREM do sono segundo Primo, s.d. é a seguinte:
Estágio 1: é a transição
do estado de vigília para o sono. O ritmo beta do estado de vigília vai se
modificando (ondas de 15 a 30 hertz, por segundo), o tônus muscular diminui e
as ondas cerebrais agora variam em torno de 7 a 11 hertz, é o ritmo, alfa.
Observado logo após a vigília, dura poucos minutos e corresponde a 5% do sono.
Estágio 2: constitui a
maior parte do sono (cerca de 50% do sono). O sono é leve, onde as ondas são
mais lentas e irregulares do que no estágio 1 (ondas de 1 a 5 hertz de
amplitude) Nesse estágio predomina o ritmo alfa.
Estágios 3 e 4- (sono
profundo) totalizam de 10 a 20% do período total do sono e se caracteriza por
ondas lentas e longas (1 a 2Hz), são ondas delta de alta amplitude. Os estágios
3 e 4 estão ligados ao crescimento e reparo dos tecidos e parecem estar
relacionados com a recuperação física. Nesse período é difícil acordar uma
pessoa.
1.3 Ciclo Sono e
Vigília
Na medida em que o indivíduo vai
passando de um estágio a outro o sono vai se aprofundando. No estágio 4, que é
atingido em média 50 minutos após a pessoa adormecer, o indivíduo está
totalmente relaxado e se encontra bastante insensível aos estímulos exteriores.
Há alguns minutos no estágio 4, o sono volta os seus estágios iniciando em
ordem decrescente, estágio 4, estágio 3, estágio 2 e inicia o primeiro sono REM
da noite. Este ciclo de oito estágios tem em média uma hora e meia do inicio do
sono. Começando o segundo ciclo, após terminar o sono REM do primeiro ciclo,
volta no estágio crescente do sono NREM, estágio 2, estágio 3, estágio 4 e para
completar o ciclo em ordem decrescente até o sono REM, formado por sete
estágios. (INOCENTE, 2005)
1.4 Função do
Sono:
Mesmo com todas as
informações sobre os processos fisiológicos, anatômicos e químicos do Sistema
nervoso, não se sabe ainda de forma clara a função do sono. Por isso, surgiram
teorias que foram construídas segundo algumas evidências observadas. De acordo
com Bezerra (2003), são elas:
1.2.1 Teoria da conservação de
energia: O animal com metabolismo maior dorme mais horas do que o animal
com metabolismo menor.
1.2.2 Teoria da termorregulação:
Observaram a redução na temperatura corporal de ratos que foram privados por
duas semanas de sono, concluindo-se então que o sono é retentor de calor
do corpóreo.
1.2.3 Teoria do metabolismo
anabólico: Propõem que durante o sono, ocorre a liberação dos hormônios
envolvidos com o catabolismo (cortisol) e na diminuição da produção dos
hormônios envolvidos com o anabolismo (GH).
1.2.4 Teoria da restauração
tecidual: diz essa teoria que no sono REM ocorre um aumento da síntese de
proteína no tecido cerebral e no sono não-REM ocorre aumento da síntese de
proteína no tecido corporal.
1.2.5 Teoria da consolidação da
memória e do aprendizado: Esta teoria refere-se apenas ao sono REM, em que
os hormônios e determinadas substâncias químicas (neurotransmissores)
facilitariam o processo e a modulação da memória. Sono REM está relacionado com
o reforço e consolidação da memória e neste sentido são os estudos que
detectaram aumento da atividade em áreas do cérebro que lidam com a memória e
as emoções para as outras fases onde não há capacidade de gravação mnéstica.
2. Os Sonhos Segundo a
Psicanálise e a Neurociência
“Enquanto os
neurocientistas se dedicam ao estudo das estruturas e funções cerebrais
envolvidas na produção do sonho, os psicanalistas se interessam pelo
significado deste, considerando os aspectos biológicos irrelevantes para a sua
compreensão.” (CHENIAUX, 2006)
De acordo com Cheniaux,
s.d., apesar de o estudo dos fenômenos mentais seja algo compartilhado pela
psicanálise e pela neurociência, a idéia de uma aproximação entre essas
disciplinas não é aceita tanto por muitos psicanalistas como para os
neurocientistas. A relação entre essas duas ciências tem sido caracterizada por
falta de valorização e de crédito de ambas as partes. Na segunda metade do
século XX, a psicanálise e neurociência colocaram-se praticamente em lados
opostos, marcando grande rivalidade.
Todavia, psicanálise e neurociência já
estiveram muito próximas. Sigmund Freud, o pai da psicanálise, iniciou sua
carreira como neuroanatomista e neurologista e, até o final de sua vida, jamais
abandonou a idéia de que os fenômenos mentais possuem um substrato biológico.
Em um dos seus últimos trabalhos - Esboço de Psicanálise - ele ainda afirmava
que a psicanálise deveria "ocupar seu lugar como uma ciência natural como
qualquer outra". (CHENIAUX, s.d.)
Segundo Soussumi (2001), a grande maioria
dos neurocientistas, o trabalho do sonho fica restrito a visão neurobiológica,
neurofisiológica do sono REM. Para os neurocientistas de base psicanalítica, há
uma nítida distinção entre a gênese dos fenômenos do sonho e do sono,
permitindo a compreensão do significado das localizações e dinamismos com as
funções do sonho, dos conteúdos e elementos constituintes como concebeu Freud.
“O que a neurociência pode proporcionar à psicanálise é a validação objetiva
das teorias desta, por meio do emprego do método experimental de investigação,
que se caracteriza por um maior rigor científico.” (CHENIAUX, s.d.)
2.1 O Sonho e a
Neurociência
Primo (s.d.) afirma que
somente na década dos 50, com a descoberta dos movimentos rápidos dos olhos, o
sono REM passou a ser um indicativo de que o indivíduo estava sonhando, então,
novas pesquisas sobre os sonhos emergiram. Para a neurociência, o sonho é
resultado da ativação de certas estruturas cerebrais, como o tronco cerebral.
Estudiosos teorizaram que os sonhos
consistem de associações e memórias eliciadas da parte frontal do cérebro, em
resposta a sinais randômicos do tronco encefálico. Estes autores sugeriram que
os sonhos são o melhor "ajuste" que o cérebro frontal poderia
fornecer a este bombardeamento randômico do tronco cerebral. Nesta proposição,
os neurônios da ponte, via tálamo, ativariam várias áreas do córtex cerebral
eliciando imagens bem conhecidas ou mesmo emoções, e o córtex então, tentaria
sintetizar as imagens disparadas. (CARDOSO, s.d.)
De acordo com Cardoso
(s.d.) a função dos sonhos ainda permanece bastante desconhecida e ainda
descreve alguns tipos de sonhos:
a) Sonhos bizarros: Esta
teoria diz que falhas no momento do sono REM, podem causar fantasias,
alucinação e obsessão. Eles também acreditam que o cérebro necessita eliminar
informações processadas durante o estado de vigília, e os sonhos seriam um modo
de livrar o cérebro destas informações para a realização de ajustes.
b) Sonhos Emocionais:
Sonhos emocionais podem ser a manifestação da personalidade do sonhador, bem
como a sua situação no estado de vigília. Eles podem ser a expressão de
desejos, preocupações, ciúmes, idéias grandiosas, insegurança, amor, medos
entre outros.
c) Sonhos Com Atos
Anti-Sociais e Com Pessoas Mortas: No estado de vigília, o córtex analisa com
precisão os impulsos que chegam dos vários órgãos receptores do sistema
sensorial, chegando a uma decisão e gerando uma resposta integrada. Nesse caso,
a integração da resposta cortical é incompleta e o sonhador é muitas vezes
levado a cometer imaginariamente atos anti-sociais.
Segundo Cheniaux (2006),
sabe-se que, embora os sonhos sejam muito mais comuns durante o sono REM, eles
podem ocorrer também durante o sono profundo. Calcula-se que de 5 a 30%
dos períodos de sono REM acontecem sem nenhum sonho. Os sonhos da fase da fase
REM são mais vívidos e mais bizarros, apresentando uma maior atuação de quem
sonha. Os sonhos do sono NREM são compostos por fragmentos da realidade não
organizados e não narráveis, raramente são lembrados e apresentam uma
participação mais passiva do sonhador
2.2 O Sonho e a
Psicanálise
Antes de Freud, os
sonhos eram considerados apenas símbolos, analisados como se fossem premonições
ou manifestações divinas. De acordo com Primo, s.d., em 1900, Sigmund Freud em
seu livro “A interpretação dos Sonhos”, defendia a idéia de que os sonhos eram
um reflexo da experiência inconsciente e era um guardião do sono.
Segundo a
psicanálise a função principal do sonho é guardar o sono do sonhador, ao
permitir a realização dos desejos inconscientes, criando condições psíquicas
para que o indivíduo continue dormindo, a fim de que seu sono não seja
perturbado.
Freud demonstrou a
existência do inconsciente, fazendo a análise de sonhos, acreditando que estes
eram instrumentos reveladores da personalidade humana. “O sonho é a estrada
real que conduz ao inconsciente”, escreveu Freud em sua obra-prima A
Interpretação dos Sonhos.
Para Freud, o sonho constitui "uma
realização (disfarçada) de um desejo (reprimido)". Possui um conteúdo
manifesto, que é a experiência consciente durante o sono, e ainda um conteúdo
latente, considerado inconsciente. Este é composto por 3 elementos: as impressões
sensoriais noturnas (por exemplo, a sensação de sede durante o sono), os restos
diurnos (registros dos acontecimentos da véspera) e as pulsões do id
(relacionadas a fantasias de natureza sexual ou agressiva) (CHENIAUX,
2006).
Conclusão
O sono não é um estado
que ocorre passivamente, mas sim, um estado que é ativamente gerado por regiões
específicas do cérebro. Todas as funções do cérebro e do organismo em geral
estão influenciadas pela alternância da vigília com o sono, além disso, o sono
funciona como um fixador de memória. Durante o sono, o cérebro classifica e
armazena memórias e o corpo se recupera dos desgastes do dia.
Uma aproximação entre a
Neurociência e a Psicanálise sobre o sonho e o sono não implicará em uma
substituição desta por aquela. O diálogo entre a Psicanálise e Neurociência,
apesar da recusa de alguns estudiosos, vem se desenvolvendo de modo bastante
fértil
Fonte: Psicologado
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